domingo, 7 de junho de 2020

Após falar em recontagem de mortos, Carlos Wizard diz que recusou convite para integrar Ministério da Saúde

Ele também agradeceu ao ministro interino Eduardo Pazuello pela "confiança"
Carlos Wizard Martins é fundador da rede de escolas Wizard Foto: Adriana Lorete

Convidado para assumir a Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde, o empresário Carlos Wizard Martins informou na noite deste domingo, em suas redes sociais, que não aceitou o posto e que deixou de atuar como conselheiro da pasta, na condição de voluntário.

A saída ocorre dois dias depois de Wizard provocar polêmica ao declarar à coluna da jornalista Bela Megale, do GLOBO, que o ministério iria recontar o número de mortos no Brasil pela Covid-19. Segundo ele, os dados atuais seriam "fantasiosos ou manipulados".

"Peço desculpas por qualquer ato ou declaração de minha autoria que tenha sido interpretada como desrespeito aos familiares das vítimas da Covid-19 ou profissionais de saúde que assumiram a nobre missão de salvar vidas", disse o empresário neste domingo.

Na manifestação, ele também agradeceu ao ministro interino Eduardo Pazuello pela "confiança", mas disse que decidiu não aceitar para continuar se dedicando "de forma solidária e independente" aos trabalhos sociais que iniciou em 2018 em Roraima, onde conheceu o general que hoje comanda a saúde.

À coluna de Bela Megale, Wizard afirmou que o número de mortos estaria inflado, apesar de pesquisas já terem demonstrado e do próprio Ministério da Saúde ter admitido, em outras gestões, que há um grande número de subnotificações.

Na mesma noite, a pasta modificou novamente a forma de divulgar o número de casos confirmados e óbitos e deixou de informar a quantidade total, limitando-se a apontar os registros da últimas 24 horas. A mudança no formato não foi informada previamente. Além disso, o portal mantido pelo ministério com dados atualizados da Covid-19 foi tirado do ar temporariamente.

– Tinha muita gente morrendo por outras causas e os gestores públicos, puramente por interesse de ter um orçamento maior nos seus municípios, nos seus estados, colocavam todo mundo como Covid. Estamos revendo esses óbitos. – afirmou Wizard.

Segundo Wizard, a pasta tem convicção que o número de mortos no Brasil seria menor que o divulgado até agora.

– Eu acredito que vai ter um dado mais real, porque o número que temos hoje está fantasioso ou manipulado.

O futuro secretário disse à coluna que participou da decisão de rever o levantamento e que um balanço atualizado deve ser publicado dentro de um mês. As informações divulgadas diariamente pelo Ministério da Saúde são resultados das soma de casos e mortes contabilizados pelas secretarias de saúde de cada Estado.

Conass reage
No sábado 06/6, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) divulgou nota em repúdio a declarações de Wizard. "Ao afirmar que secretários de Saúde falseiam dados sobre óbitos decorrentes da Covid-19 em busca de mais 'orçamento', o secretário, além de revelar sua profunda ignorância sobre o tema, insulta a memória de todas aquelas vítimas indefesas desta terrível pandemia e suas famílias", diz nota assinada pelo presidente do Conass, Alberto Betrame.

Para o Conass, "a tentativa autoritária, insensível, desumana e anti-ética de dar invisibilidade aos mortos pela Covid-19, não prosperará".

"Nós e a sociedade brasileira não os esqueceremos (os mortos) e tampouco a tragédia que se abate sobre a nação. Ofende secretários, médicos e todos os profissionais da saúde que têm se dedicado incansavelmente a salvar vidas. Wizard menospreza  a inteligência de todos os brasileiros, que num momento de tanto sofrimento e dor, veem seus entes queridos mortos tratados como 'mercadoria'. Sua declaração grosseira, falaciosa, desprovida de qualquer senso ético, de humanidade e de respeito, merece nosso profundo desprezo, repúdio e asco. Não somos mercadores da morte", completa a nota do Conass.