A cidade de Florianópolis completou nesta quinta-feira 31 dias sem mortes registradas oficialmente pelo novo coronavírus. Até 05/6, foram sete óbitos confirmados na capital por Covid-19.
O fato tem sido atribuído a uma longa e bem sucedida quarentena adotada pela prefeitura. Mas o secretário municipal de Saúde, Carlos Alberto Justo da Silva, pondera que a cidade ainda não atingiu o pico de transmissão do vírus e que a chegada do inverno será um importante teste. A mudança de estação passou a ser motivo de preocupação porque é quando as hospitalizações por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) crescem.
Florianópolis tinha até esta quinta-feira 872 casos confirmados de Covid-19. Outros 1.367 casos suspeitos estavam em análise. De acordo com a prefeitura, a taxa de contaminação na cidade tem se mantido em 1, ou seja, um indivíduo infectado tem transmitido o vírus para uma pessoa. Cidades vizinhas à capital catarinense registram um cenário parecido.
Em relação à subnotificação de casos de Covid-19, o secretário municipal admite que ela existe, mas ele nega que seja expressiva.
-Se fosse, os óbitos teriam acontecido e não temos - disse.
Boletim epidemiológico do governo de Santa Catarina apontou em maio uma explosão dos casos de SRAG no estado. Entre janeiro e abril deste ano foram registrados 2.114 casos e 217 mortes por SRAG. No mesmo período do ano passado, foram 293 e 27, respectivamente. A prefeitura de Florianópolis informou ontem que não registrou nenhuma morte em 2020 por SRAG por outros vírus respiratórios (onde se enquadraria o novo coronavírus). "Nenhum outro caso, além dos sete noticiados pela prefeitura, foram positivados para Covid-19, lembrando que todos foram testados para o vírus. Alguns casos aguardam resultados para outros vírus respiratórios", disse o governo municipal em nota.
Florianópolis foi a primeira capital a decretar quarentena no país em razão da pandemia em 13 de março. Até hoje o transporte público municipal está suspenso. Ele será retomado gradualmente a partir do próximo dia 17. Outros municípios do entorno, como Palhoça, vão liberar a circulação de ônibus na próxima segunda-feira.
A prefeitura aponta a testagem da população como outro fator importante para o controle da epidemia até agora. Ela começou há cerca de um mês e, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, foram aplicados 10.668 testes do tipo rápido ou PCR. Isso dá uma taxa de 2.232 testes/100 mil habitantes ou 22 mil/milhão de habitantes. Equivale a cinco vezes o índice de testagem de São Paulo ou do Brasil, que está em torno de 4.000/milhão de habitantes. O objetivo do município é alcançar 30 mil testes realizados.
A ocupação de leitos de UTI na cidade, termômetro da pressão sobre a rede de saúde, está em torno de 60%, segundo o Sindicato dos Médicos de Santa Catarina. O índice é considerado bom pela entidade, que apoiou as medidas de isolamento social na cidade e agora defende a reabertura econômica. Na cidade de São Paulo, por exemplo, essa taxa estava em 64% nesta quinta-feira.
- Temos uma condição confortável hoje mas, com o inverno apertando, pode piorar. Esse sucesso até agora nos mostra que encaminhamos a situação de forma adequada. Foi um remédio amargo. Agora se foi mais do que deveria ainda vamos descobrir - disse Cyro Soncini, presidente do sindicato dos médicos.
TRANSPORTE COLETIVO E MÉDICO DA FAMÍLIA
- O desafio será no inverno a partir do fim de junho - afirmou o secretário de saúde.
Para ele, um dos fatores de controle da epidemia na cidade foi a interrupção do transporte coletivo e a cobertura de 100% da população do programa de Saúde da Família.
- Acreditamos que o transporte coletivo é um fator de risco maior do que o funcionamento do comércio. Estamos há mais de 80 dias sem a circulação de ônibus na cidade, embora o comércio já tenha retomado as atividades. O fato de termos 100% da população atendida por médico da família também permitiu que a gente agisse rapidamente na identificação e isolamento dos casos - disse Silva.
Na capital, a reabertura do comércio veio antes do que a retomada do transporte. As projeções é que a quarentena levou a demissões de cerca de 450 mil pessoas até agora.