sexta-feira, 8 de maio de 2020

Com queda nos preços de combustíveis, abril registra deflação de 0,31%, menor índice em 22 anos

Preço da gasolina caiu em todas as regiões pesquisadas. Na contramão, alimentação em casa tem alta de 2,24%


Com forte queda no preço dos combustíveis, o país teve deflação de 0,31% em abril, após ter registrado alta de 0,07% em março, divulgou o IBGE na manhã desta sexta-feira. Mas o IPCA ainda está positivo no ano. Acumula alta de 0,22% nos primeiros quatro meses de 2020 e 2,40% em12 meses. Em abril do ano passado, a variação havia sido de 0,57%.

O maior impacto negativo sobre o IPCA de abril foi o grupo transportes, que teve queda de 2,66% no mês, no qual está o item preços de combustíveis. Houve queda de quase 10% dos combustíveis em abril, puxada pela redução de 9,31% nos preços da gasolina.

A gasolina teve o maior impacto individual negativo sobre o índice no mês. Na quinta-feira, a Petrobras reajustou o preço da gasolina nas refinarias em 12%, seguindo recente alta do preço do petróleo no exterior e alta do dólar.

O presidente Bolsonaro chegou a dizer que vai questionar a empresa pelo reajuste, mas, no acumulado do ano, o combustível continua em queda. Além do preço do petróleo em declínio, há uma demanda menor pelos combustíveis, devido ao isolamento social.

"O resultado de abril foi muito influenciado pela série de reduções nos preços dos combustíveis, principalmente da gasolina, que caiu bastante e puxou o índice para baixo", explica o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.

De acordo com ele o recuo no preço da gasolina ocorreu em todas as 16 regiões pesquisadas, sendo a maior em Curitiba (-13,92%) e a menor no Rio de Janeiro (-5,13%).

Etanol (-13,51%), óleo diesel (-6,09%) e gás veicular (-0,79%) também apresentaram queda em abril. Para Kislanov, existe um efeito indireto da pandemia, na medida que houve um conflito dentro da OPEP e a Petrobras anunciou reajuste no preço dos combustíveis.

Seis dos nove grupos aferidos pelo IBGE tiveram queda neste mês. O grupo alimentos e bebidas (+ 1,79%) foi um dos que registaram alta. Entre is detaques está a alimentação em domicílio, que passou de alta de 1,40% em março para 2,24% em abril.

O preço da cebola subiu 34,83%, a batata-inglesa  teve alta de 22,81%. Itens como o feijão-carioca (17,29%) e leite longa vida (9,59%) também tiveram reajustes. Já as carnes (-2,01%) ficaram mais baratas, com queda pelo quarto mês consecutivo.

"Há uma relação da restrição de oferta, natural nos primeiros meses do ano, e do aumento da demanda provocado pela pandemia de Covid-19, com as pessoas indo mais ao mercado, cozinhando mais em casa", explica Kislanov.

Por outro lado, a alimentação fora de casa, passou de 0,51% em março para 0,76% em abril, pressionada pela alta do lanche (3,07%). A refeição registrou deflação (-0,13%) pelo segundo mês consecutivo. Em março, a queda havia sido de 0,10% .

Coleta à distância
Segundo o IBGE, para o cálculo do IPCA do mês, foram comparados os preços coletados no período de 31 de março a 29 de abril de 2020 com os preços vigentes no período de 3 a 30 de março de 2020. Em virtude do quadro de emergência de saúde pública causado pela Covid-19, o IBGE suspendeu, no dia 18 de março, a coleta presencial de preços nos locais de compra. A partir dessa data, os preços passaram a ser coletados por outros meios, como pesquisas realizadas em sites de internet, por telefone ou por e-mail.


Entenda por que a queda de 40% do preço da gasolina em 2020 nas refinarias não chegou ao seu bolso

Estoques elevados, IMCS, e etanol adicionado à gasolina são alguns fatores que atenuam redução dos preços da Petrobras nas bombas


No acumulado do ano os  preços da gasolina nas refinarias já tiveram uma redução  acumulada de 40%. Atualmente, está no menor patamar dos últimos nove anos.

Mas, nas bombas, a gasolina teve uma tímida redução de 12,03% de janeiro até agora.

De acordo com a pesquisa de preços da Agência Nacional do Petróleo (ANP), na semana passada a gasolina estava sendo vendida a R$ 3,786 o litro, em média, no Brasil, contra R$ 4,579 em janeiro deste ano.

No Estado do Rio de Janeiro a redução foi menor ainda nos postos, com a gasolina sendo vendida a R$ 4,012 por litro  na semana passada , contra R$ 5,041 em janeiro.

O especialista Adriano Pires Rodrigues  explica que é preciso  levar em conta algumas questões importantes, como o fato de a forte redução resultando num acumulado de 40% no ano. Como a demanda está em queda por conta da crise do coronavírus, leva tempo para que a gasolina mais barata chegue aos postos.

- O  giro dos estoques aumentou muito com a queda das abrupta das vendas. O que levava 15 dias para girar e chegar  na ponta agora vai levar 30 dias ou mais, dado que as vendas caíram já 50%. E devem cair mais – ressaltou Adriano Pires.

Ele lembra ainda que a parcela da refinaria representa  29,9% do preço total da gasolina, que tem outros componentes. A carga de impostos chega a cerca de 45%. Além disso, o custo com a adição do etanol anidro representa 13,5% do preço total da gasolina.

lan Arbetman, analista da Ativa Investimentos também destaca que são vários fatores que fazem com que os preços nas bombas demorem a refletir a redução de preços nas refinarias da Petrobras.

O executivo  destacou que um dos fatores que certamente estão pesando para não ter uma redução maior de preços são  os elevados estoques por conta da queda do consumo que vem ocorrendo nos últimos meses e vai se agravar mais ainda com o confinamento das pessoas por conta do coronavírus.

Para Arbetman, o etanol  anidro  misturado na proporção de 27% na gasolina também influencia, além dos   impostos, principalmente o ICMS, imposto estadual que incide sobre os combustíveis e é uma das principais fontes de receita dos estados. 

O analista acredita ainda que, já por conta da crise econômica que o país atravessava antes mesmo da pandemia, as empresas estejam retendo uma parte da queda do preço nas refinarias para aumentar a margem de lucro, como forma de compensar custos fixos diante de menos vendas.

- É um conjunto de  fatores que fazem com que os preços nas bombas não tenham uma  redução maior. Principalmente a questão do ICMS e a mistura do etanol.  Além  disso, tem a questão dos estoques, como também a retenção  de lucro excedente.  O empresário vê o volume de vendas mais fraco. Então, no pouco que ele vende, não tem como abrir mão do quanto ganha. É como se fosse uma espécie de subsistência – afirmou lan Arbetman.

De acordo com cálculos feitos pelo consultor da área de distribuição de combustíveis Dietmar Schupp, das variações ocorridas no ano nos  itens que compõem os preços da  gasolina,   as únicas parcelas que tiveram aumentos de preços foram  o ICMS, com alta média de 0,5%, e a margem dos postos revendedores, que aumentou 9,3%, passando de 0,45 por litro para R$ 0,49 em março, em média.

A presidente do Sinicomb, sindicato que reúne os postos do Rio de Janeiro, Maria Aparecida Siuffo,  argumenta que os postos não têm como repassar integralmente as reduções de preços devido à queda das vendas e ao item que mais pesa, principalmente no Estado do Rio: a alíquota de 34% do ICMS, o mais caro do país.

- Eu não acredito que algum revendedor, no meio desta crise que estamos passando, esteja segurando qualquer repasse das distribuidoras.  O posto compra um volume fixado com antecedência, paga à vista.  Com a queda tão grande nas vendas de mais de 20% que já vinha acontecendo, e que deve aumentar mais ainda agora, não tem como segurar preços – ressaltou Maria Aparecida.