Na linha de frente do combate à Covid-19 e muitas vezes expostos ao novo coronavírus sem a proteção individual adequada, os profissionais de saúde que perderam, eles próprios, a batalha contra a doença já chegam a 35 no Rio. São pelo menos 11 médicos, 21 técnicos de enfermagem e três agentes comunitários mortos desde o início da pandemia.
Com 38 anos, o técnico Alan Patrick, que trabalhava no Hospital estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, é um dos integrantes do time de heróis que perderam a vida para a Covid-19 enquanto tentavam salvar doentes. Nesta sexta-feira, Dia do Trabalho, Regina Evaristo, mãe afetiva de Alan, que morreu no mês passado, disse ter certeza de que o filho estaria dando plantão no feriado, caso tivesse se recuperado:
— Servir e cuidar era de suma importância para ele.
Outra técnica, Danielle Costa, também está entre as vítimas. Antes de ser contaminada, ela estava radiante com sua mais recente conquista: integrar a equipe que trabalha nas ambulâncias do Samu, como sempre sonhara. Uma amiga de Danielle lamentou ontem a perda da profissional.
— Cuida da gente aí de cima, que nós vamos continuar lutando por quem você tanto lutou — disse, emocionada.
Com o colapso da rede pública, que já sofre com a falta de leitos de UTI, alguns profissionais não conseguiram sequer vaga nos hospitais onde trabalhavam. Essa foi a situação dramática enfrentada pela técnica de enfermagem Anita de Souza Viana, de 63 anos. Ela morreu, semana passada, longe do front do seu dia a dia, o Hospital municipal Ronaldo Gazzola, em Acari, referência para a doença. Em estado grave, foi transferida para uma unidade estadual em Volta Redonda, a 130 quilômetros da capital, mas não resistiu.
Por ser idosa, Anita tinha mais chances de complicações, caso fosse contaminada. Mas, mesmo diante dos riscos, fez questão de continuar ajudando pacientes. Segundo o presidente do Sindicato dos Médicos, Alexandre Telles, muitos profissionais que integram grupos de risco continuam exercendo suas atividades normalmente. Ele estimou que já chegue a 50 o número de óbitos de trabalhadores da área de saúde.
No sábado 25/4, a enfermeira Denise Gomes, que trabalhava na UPA de Inoã (que receberá seu nome), foi mais uma vítima do Covid 19 após ficar duas semanas internada. Denise que amava sua profissão, tinha 42 anos.
O óbito mais recente foi o do ginecologista e obstetra Paulo César da Silva Saraiva, que morreu nesta sexta-feira, segundo o Conselho Regional de Medicina. Ele estava internado com Covid-19 no Hospital São Lucas, em Copacabana. A entidade não informou se ele trabalhava diretamente com infectados pelo novo coronavírus.
Protesto com faixas
Preocupado com o avanço da doença, um grupo de médicos do coletivo Nenhum Serviço a Menos, que reúne trabalhadores da rede pública, estendeu ontem faixas de protesto em quatro pontos da cidade. Com a inscrição “Quarentena geral para não adoecer, renda mínima para sobreviver, leitos para todos não morrer!”, elas foram afixadas na passarela da Rocinha; na Avenida Princesa Isabel, em Copacabana; no trecho da Avenida Brasil na frente da Fiocruz, em Manguinhos; e na frente do Hospital Moacyr do Carmo, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.
Nesta sexta, a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, homenageou os profissionais da saúde com o lançamento de um clipe da Orquestra Virtual, um grupo formado por alunos da rede municipal de ensino. Nele, oito jovens interpretam, de suas casas, a canção “Enquanto houver sol”, dos Titãs.