sexta-feira, 3 de abril de 2020

Cada vez mais isolado, Bolsonaro diz que 'falta humildade' a Mandetta e que 'nenhum ministro é 'indemissível'. Mandetta responde trabalhando!


O presidente Jair Bolsonaro disse na noite desta quinta-feira que nenhum de seus ministros é 'indemissível'. Bolsonaro falava da atuação do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, quando disparou:

- Olha, o Mandetta já sabe que a gente esta se bicando há algum tempo. Não pretendo demiti-lo no meio da guerra. Em algum momento ele extrapolou. Respeitei todos os ministros, ele também. A gente espera que ele dê conta do recado. Tenho falado com ele. Ele está numa situação meio... Se ele se sair, bem, sem problema. Nenhum ministro meu é indemissível - disse Bolsonaro, em entrevista a rádio Jovem Pan.

Bolsonaro disse que, "em alguns momentos", Mandetta teria que "ouvir um pouco mais o presidente da República".

- Ele (ministro) tem responsabilidade, sim. Ele cuida da Saúde, o Paulo Guedes cuida da Economia, e eu entro aqui no meio para cuidar das duas áreas - disse.

Em seguida, reforçou não ter nenhum problema com o ministro da Economia, mas disse que "Mandetta quer fazer a vontade dele muitas vezes". E emendou:

- Pode ser que ele esteja certo - disse, reforçando, porém, que "falta humildade" ao ministro da Saúde.

O desalinhamento entre Mandetta e Bolaonaro tem se intensificado nos últimos dias. Na última terça-feira, o presidente se reuniu com médicos para conversar sobre estudos sobre a cloroquina, que Bolsonaro tem tratado como uma possível solução para o Covid-19, sem a presença do seu ministro da Saúde. Mandetta soube por meio de médicos do convite para o encontro. Mais tarde, o ministro citou "critérios políticos" ao comentar sua ausência do planejamento.

Em outro revés para a autonomia do ministro da Saúde no enfrentamento à crise, Jair Bolsonaro decidiu acabar com as entrevistas coletivas concedidas diariamente pela equipe da pasta. Com isso, os anúncios do governo federal, inclusive os da área da saúde, foram concentrados no Palácio do Planalto, também como uma forma de transmitir a imagem de união entre saúde e economia.

A Casa Civil e a Presidência da República encaminharam essa determinação para todos os ministérios, numa tentativa de "alinhar a narrativa" do governo federal em torno do tema. Por isso, a decisão foi de concentrar os anúncios na figura do presidente.

Jair Bolsonaro aproveitou para acenar aos evangélicos na entrevista desta quinta-feira. Ele lembrou ser católico e sua esposa, Michelle Bolsonaro, ser evangélica antes de pedir que a população fizesse jejum para ajudar no combate ao coronavírus.

- Um pedido aqui, um dia de jejum para quem tem fé, em nome de que o Brasil fique livre desse mal - disse ele.

'Estou trabalhando aqui', diz Mandetta após ataque de Bolsonaro


Após o presidente da República Jair Bolsonaro dizer à rádio Jovem Pan que "está faltando humildade" ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, ele disse que está trabalhando e não viu a entrevista do presidente.

— Não achei nada, não. Não estou sabendo de nada não. Estou trabalhando aqui.

Questionado sobre se não queria responder, disse apenas:

— OK, vamos trabalhar. Lavoro, lavoro, lavoro (trabalho, em italiano).

Na entrevista, Bolsonaro afirmou que "está faltando humildade" ao ministro e que, embora nenhum ministro seja indemissível, não pretende tirar Mandetta no meio da crise.

- Olha, o Mandetta já sabe que a gente esta se bicando há algum tempo. Não pretendo demiti-lo no meio da guerra. Em algum momento ele extrapolou. Respeitei todos os ministros, ele também. A gente espera que ele dê conta do recado. Tenho falado com ele. Ele está numa situação meio... Se ele se sair, bem, sem problema. Nenhum ministro meu é indemissível - disse Bolsonaro, em entrevista a rádio Jovem Pan.

Bolsonaro também disse que, "em alguns momentos", Mandetta teria que "ouvir um pouco mais o presidente da República".

— Ele (ministro) tem responsabilidade, sim. Ele cuida da Saúde, o Paulo Guedes cuida da Economia, e eu entro aqui no meio para cuidar das duas áreas - disse.

Ao longo do dia, Bolsonaro se reuniu com pelo menos oito ministros no Palácio do Planalto e também no Alvorada. Nas reuniões, o presidente deu vários sinais de que está incomodado com as decisões de Mandetta à frente da pasta. Bolsonaro não deixou claro nas conversas com os ministros se pretende trocar Mandetta, mas demostrou muito incômodo quando se referia ao subordinado, o que despertou atenção de alguns ministros.

Numa das reuniões, Bolsonaro recebeu o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, que ganhou respeito do presidente. O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, acompanhou a conversa com Barra.

Apesar das investidas constantes do presidente, familiares do ministro relatam que Mandetta nunca cogitou abandonar o cargo no governo, ou "ao menos nunca externou isso". Mesmo nas situações mais tensas deflagradas pelos comentários de Bolsonaro, o relato é de que o ministro da saúde manteve o foco em resolver a crise causada pelo novo coronavírus.

O deputado Fábio Trad (PSD-MS), primo do ministro, diz que sair agora seria, para Mandetta, "abandonar o barco", "covardia, falta de coragem". Nas últimas duas semanas, o ministro dizia a aliados do DEM que cogitava sair do governo assim que a epidemia acabar, mas não antes disso — essa era sua posição antes da entrevista de Bolsonaro, relatavam pessoas próximas.

— Ele não vai pedir demissão e não vai abrir mão dos princípios dele, pelo que eu conheço de 43 anos de convívio — diz Trad

Aliados avaliam que saída de ministro é questão de tempo

As declarações do presidente Jair Bolsonaro à Jovem Pan sobre o ministro Luiz Henrique Mandetta foram o recado mais explícito de que a saída do comandante da Saúde do governo é questão de tempo. A avaliação é feita por colegas de Esplanada dos Ministérios e até por aliados de Mandetta. Pessoas próximas ao ministro já previam uma escalada dos conflitos com o mandatário do Palácio do Planalto, mas vinham pedindo “cautela” e que o ministro resistisse no cargo.

Agora, no entanto, a situação mudou. Mandetta, segundo aliados, não tem tido habilidade suficiente para lidar com o chefe, tornando a relação insustentável. Integrantes do governo dizem que o ministro da Saúde, ao insistir em confrontar Bolsonaro o tempo todo, estaria forçando sua demissão.

O presidente tem se irritado com o que classifica de postura arrogante do auxiliar. A avaliação de parte do governo é a de Mandetta estaria trabalhando para consolidar a imagem de que ele é “um técnico lutando contra posições ignorantes” de Bolsonaro.

Pessoas que acompanham o dia a dia do governo dizem que Bolsonaro e Mandetta nunca tiveram uma relação próxima, mas que a postura de enfrentamento permanente do ministro acabou por implodir a ponte entre os dois.

A situação teria se agravado depois que o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), de quem Mandetta é muito próximo, anunciou rompimento com o presidente.

Aliados de Bolsonaro já têm recomendado que escale alguém mais alinhado a sua agenda para o ministério, mesmo que a saída de Mandetta lhe causa um desgaste político. A avaliação é a de que, nesse cenário, o enfrentamento da crise do novo coronavírus no país pode se tornar ainda mais problemático.