Há um consenso em Brasília sobre a queda do agora ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Ele caiu porque teve a ousadia de evidenciar que o rei estava nu.
Nestas últimas semanas, Mandetta não escondia sua contrariedade com gestos, atos e palavras do presidente Jair Bolsonaro em tentar flexibilizar as regras de isolamento social, de forma contrária às recomendações internacionais.
Diante do polêmico pronunciamento do presidente minimizando a pandemia do novo coronavírus e da insistência dele em fazer lanche em padaria e provocar pequenas aglomerações, Mandetta foi enfático em se posicionar de forma contrária e alertar os riscos desses gestos.
Apesar do desconforto no Palácio do Planalto com a “ousadia” de Mandetta em enfrentar publicamente Bolsonaro, houve um cálculo político nesta demora para concretizar a demissão. Bolsonaro temia, sim, a popularidade alcançada pelo seu ministro nesses últimos meses.
De forma franca ao tratar da pandemia, o agora ex-ministro da Saúde ganhou a confiança da maior parcela da população. E passou a ter uma aprovação bem maior do que o presidente. Portanto, na avaliação de interlocutores de Bolsonaro, era preciso causar antes algum desgaste ao ministro.
Isso foi tentando de forma mais enfática nas últimas duas semanas, quando Mandetta passou a ser classificado por bolsonaristas como “desleal” e “insubordinado”
Mas essa estratégia desmoronou na quarta-feira (15), quando numa entrevista desconcertante concedida no salão do Palácio do Planalto, Mandetta explicitou todo o jogo político do presidente e, mais uma vez, se posicionou a favor da ciência para enfrentar o inimigo maior: a pandemia.