Joõa Dória, governador de São Paulo ao lado do médico infectologista David Uip |
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), encerrou a entrevista coletiva da quinta feira 10 de abril pedindo que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tenha respeito pelos médicos. O político tucano citou que o agora chefe do Executivo foi salvo pela medicina e ficou internado no hospital Albert Einstein, na capital paulista, quando levou uma facada durante a campanha presidencial.
Doria se irritou com a politização do tratamento envolvendo ou não o uso de cloroquina feito pelo infectologista David Uip, que foi contaminado pelo novo coronavírus. O presidente da República e o ministro Augusto Heleno cobraram que o coordenador do Centro de Contingência ao Coronavírus em São Paulo divulgasse se tomou ou não a droga.
"Quando o senhor precisou salvar sua vida, o senhor veio para São Paulo e foi atendido no Albert Einstein", disse. "Foi atendido pelos mesmos médicos da equipe que o David Uip participa. O senhor agradeceu naquele momento àqueles médicos do Albert Einstein e de Juiz de Fora que ajudaram a salvar sua vida. São esses médicos que estão ajudando a salvar a vida de milhões de brasileiros. Respeite a medicina, respeite os médicos. Você pode precisar deles outra vez."
O tratamento de David Uip virou questão política porque o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é um entusiasta do medicamento. Ele defende sua eficácia contra a covid-19 com frequência e cobrou uma posição do coordenador do Centro de Contingência.
Antes da entrevista coletiva, o assunto da receita foi tratado por integrantes do governo de São Paulo. Havia também uma menção ao tema na lista de perguntas enviada pelos jornalistas que acompanham a coletiva de casa. A orientação dos assessores de comunicação foi Uip aproveitar a oportunidade para falar da cloroquina.
Mas a receita foi tratada na coletiva logo no começo pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB), que falou defendendo o infectologista e afirmando que Uip está sendo vítima de ataques disparados a partir do gabinete do ódio. Ele pediu respeitos aos médicos e acrescentou que Uip sugeriu ao Ministério da Saúde a adoção da cloroquina.
Após confirmar receita com cloroquina, Uip pede a Bolsonaro 'respeito'
Horas depois de confirmar à Rádio Gaúcha que é verdadeira a imagem de uma receita médica em que prescreve cloroquina para si mesmo, David Uip, chefe do Centro de Contingência ao Coronavírus em São Paulo, criticou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que questionou nas redes sociais se o infectologista da equipe de Joao Doria (PSDB) havia tomado a medicação.
"Presidente, eu respeitei o seu direito de não revelar seu diagnóstico, respeite o direito de não revelar meu tratamento. A minha privacidade foi invadida. A privacidade da minha clínica foi invadida. Tomarei as providências legais adequadas para a invasão da minha privacidade e dos meus pacientes".
Uip se infectou com o coronavírus, se curou e voltou ao trabalho esta semana. Mas, questionado ontem se havia usado a cloroquina -- substância em estágio inicial de testes contra a covid-19 --, Uip se esquivou. Até que a imagem desta receita veio à tona.
Ainda sem confirmar se havia tomado o remédio, mas afirmando que é real a receita (que tem ele como paciente e como médico), Uip disse que o seu tratamento não tinha "nenhum valor" para a discussão, afirmou que não é contra a cloroquina, mas fez ressalvas.
"Na reunião de quinta passada com ministro Mandetta [da Saúde], sugeri que ampliasse o uso de cloroquina para todos os pacientes internados desde que o médico receitasse e o paciente autorizasse".
O infectologista ressaltou que a cloroquina tem efeitos cardíacos e hepáticos e Uip afirmou que precisa ser tomada com cuidado. Em seguida, reclamou de o seu tratamento, algo pessoal segundo ele, gerar tanta repercussão.
Tratamento de Uip foi politizado
O tratamento de David Uip virou questão política porque o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é um entusiasta do medicamento, que ainda carece de mais testes de eficácia e segurança, mas vem sendo usado preliminarmente.
Ontem, em coletiva de imprensa, David Uip se recusou a falar sobre o tratamento e responder se usou cloroquina alegando ser algo pessoal. "Eu não me prescrevi. Se eu tomei ou não antibiótico ou qual droga para febre e para enjoo é algo pessoal. Como eu respeito meus pacientes, gostaria de ser respeitado. Não faço isso para esconder nada, mas não quero transformar meu caso em modelo para coisa alguma", disse.
Mais cedo, em entrevista à Rádio Gaúcha, Uip confirmou que o documento vazado é real, mas sem detalhar se usou o medicamento em seu próprio tratamento.
A receita é da minha clínica. Ela é real. Algum lugar vazou de forma incorreta. O que nada me preocupa. Eu não tenho nada contra o uso de cloroquina. Pelo contrário, eu uso nos meus pacientes internados. O que está se fazendo confusão é a respeito do meu tratamento pessoal. O meu tratamento, o que eu deveria fazer do ponto de vista de preocupação eu fiz, nos meus primeiros sintomas eu fiz exame. Eu vim a público e assim que percebi que estava complicando, eu vim a público, mas divulgar a receita individual de qualquer paciente eu entendo que não é correto. A transparência como homem público é dizer tudo que eu tenho. Divulgar um tratamento para propagação ou não de medicamentos eu acho incorreto", explicou.
"Essa receita é de 13 de março e meu diagnóstico é 23 de março. Temos 12 médicos e 9 infectologistas, todos que trabalham com infecção. Todos muito envolvidos na linha de frente no tratamento de coronavírus. Na clínica tomamos decisão de comprar diversos medicamentos, entre eles, a cloroquina. Ela não foi comprada em farmácia, foi uma cloroquina manipulada, isso é uma farmácia de manipulação e à disposição de uma clínica que está na linha de frente no tratamento de pacientes. Foi vazado de forma irregular", completou.